sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Pequeno Sonho de Liberdade










Cansei.
Há o silêncio sobrevoando,
à espera de afastar a fera de luzes ardidas.
Buzinas saltitantes de mãos ansiosas no volante.
Distante,
a consciência aguarda a vaga
Luz,
que todos somos importantes:
na vista
na pista
na vida
na fila
    dos instantes da imprescindível
        igualdade do que somos.

A máquina é conduzida
acelerando a desprezível gentileza
pelo incômodo ao lado
( pela apropriação indébita do espaço);
nesta selva urbana,
em que se distribuem senhas
das condutas irascíveis humanas.

Quero,
descalça,
sentir a  areia
aprofundando os meus pés livres,
neste pequeno sonho de liberdade! 



Suzete Brainer (Direitos autorais registrados)

Imagem: Obra de Inna Tsukakhina.



13 comentários:

  1. Quem sabe, também “a esperança de óculos”, além da calça desbotada, para singrar estes mares nada calmos da “selva urbana”, desfolhando lírios e sonatas, elucubrando sonhos míticos “de pés livres”, agarrando-se [outra vez, quem sabe,] a uma rocha para ver o vento passar, passar, passar...
    Um belo texto, Suzete! Somos escravos dessa dura realidade! E nos apegamos a "um pequeno sonho de liberdade".

    Forte abraço,

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  2. Suzete , sinto o belo poema como um grito de esperança . Adorei . Beijos

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  3. Um poema que acalma a loucura que é o dia dia nas cidades.
    Gostei muito, Suzete.

    Beijinho.

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  4. Uma igualdade tão mascarada, tão esquecida, tão desrespeitada nos mais prosaicos momentos do dia a dia, numa realidade de olhares rápidos e inquietos que parecem não ter tempo nem disponibilidade para rever-se em semelhança no outro. Uma selva que aprisiona e não liberta, que animaliza em vez de humanizar.
    E que maravilhosa é a sensação dos pés na areia fresca!...Felizmente vivo em Lagos, uma cidade junto ao mar. Tenho a certeza que não conseguiria viver numa cidade grande! :-)
    Excelente o conteúdo e a forma do poema! E gostei também muito da imagem, que também já utilizei.
    Bom fim de semana, querida Suzete!
    xx

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  5. Um poema que pretende afastar as amarras, invocar a premente necessidade de respirar...
    Dos versos transpira, e de que maneira, essa vontade.
    Muito bem conseguido, Suzete.

    Um beijinho :)

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  6. pressente-se esse ritmo frenético de uma grande metrópole
    e um obtuso e irritante silêncio sentado ao lado...

    gostei muito dessa forma sincopada (de uma força gritada) que expressa divinamente "a fuga" para o "sonho de liberdade"

    saudo-te, Poeta!

    beijo.

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  7. Escolheu belíssima imagem, Suzete!
    Como são difíceis esses caminhos, onde se precisa encontrar mais que espaço, pois é gritante o desrespeito, a indiferença, a suposição da existência de apenas direitos.
    Neles, percebemos como a loucura paira sobre cabeças e mãos.
    De fato, o sonho de liberdade, nessa confusão onde não se encontra luz, foi mostrado por você em conformidade com meus próprios desejos, pés no chão, um contato íntimo e prazeroso com a areia macia.
    Muito belo!!!!!! Bjs.

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  8. Olá Suzete,

    Linda a imagem. Fiquei aqui admirando cada detalhe da bela obra de Inna Tsukakhina.
    Tão belo quanto a obra é o poema, inspirado numa vivência massacrante, estressante e desprovida de calor humano. Uma selva de pedras, onde reina a irritação, a intolerância. o desrespeito e a indiferença.
    Um sonho de liberdade ansiado por muitos, mas que as amarras do sistema não permitem realizar sem o prejuízo da própria sobrevivência.
    Quanto ao pés na areia... que delícia!!! Não há melhor sensação de liberdade e de bem estar.
    Bela construção poética, que retrata lindamente uma situação tão desalentadora.
    Brilhante, amiga!

    Feliz semana.

    Beijo.

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  9. Dos dias que nos sufocam ao grito libertador - eis a súmula da minha leitura deste teu poema em que a forma escolhida acompanha este estado de alma.
    Relevo o léxico que exprime bem o cansaço, assim como a mensagem contida na última estrofe.
    Gostei mesmo muito!
    Bjo, querida :)

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  10. Que poema magnífico, a sua construção estrutural,
    na forma sincopada, expressando a dinâmica do sentir
    sufocado pelo abismo incompressível do trânsito (atitudes das pessoas),
    para o grito de liberdade com a possibilidade (o sonho) dos pés
    livres na profundidade da areia...
    Belíssimo, Suzete!
    Abraço afetuoso.
    Felipe.

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  11. Boa noite Suzete,
    traz-nos este poema num ritmo sincopado pela aflição da urgência - um grito de revolta. Muito bom.

    Mergulhe-se na areia
    profundamente:
    nem chão os pés
    têm onde pisar?
    Um dia deixam de ser pés
    por disfunção
    Faça-se uma revolução!

    Bj

    ResponderExcluir
  12. Boa noite Suzete,
    traz-nos este poema num ritmo sincopado pela aflição da urgência - um grito de revolta. Muito bom.

    Mergulhe-se na areia
    profundamente:
    nem chão os pés
    têm onde pisar?
    Um dia deixam de ser pés
    por disfunção
    Faça-se uma revolução!

    Bj

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